Quando disse, “é fácil ser pessoa, o difícil é ser cidadão”, durante a abertura do mestrado em Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça, em Rondônia, Antonio Rulli Jr. parafraseava Victor Hugo. Assim como o mestre da literatura francesa, o jurista também acreditava na justiça e no lado mais humano das relações. Rulli morreu no último domingo (14/01), em Ubatuba, vítima de um infarto. Tanto por seu lado “humano” quanto por sua vasta competência, sua morte foi profundamente lamentada por colegas de todo o País e recebida com absoluto pesar por entidades da magistratura.
Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e presidente do Colégio Permanente de Diretor de Escolas Estaduais da Magistratura (Copedem), Rulli nasceu em Campo Grande (MS), mas teve sua formação acadêmica (se formou bacharel no Largo São Francisco/USP e doutor em Direito do Estado pela PUC-SP) e trabalho desenvolvido principalmente em São Paulo.
Construiu uma bela e sólida carreira. Foi professor na graduação e pós-graduação do Centro Universitário UniFmu, diretor da Escola Paulista da Magistratura (EPM), membro do Conselho Superior da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM), presidente Honorário da União Internacional de Juízes de Língua Portuguesa (UIJLP) e membro da Secretaria de Assuntos Internacionais da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), entre tantos outros postos.
O doutor Antonio Rulli Jr. tinha uma inquietude genuína, tanto que recusou a condição de aposentado ao deixar compulsoriamente o TJSP, em 2012. Passou a se dedicar ao Copedem e viajar pelo País para participar de congressos e encontros de escolas de Magistratura. Foi pioneiro, entre os magistrados, em compartilhar suas experiências e conhecimentos nas redes sociais.
Mais recentemente, debruçou-se sobre um interessantíssimo projeto: o Memorial de Ministros de Letras, obra que reúne a biografia de 6.684 juízes de Direito do Brasil e Portugal, de 1.544 até a Independência. Um verdadeiro compêndio com 2.200 páginas sobre nossa jurisdição.
Antonio Rulli Jr. teve uma vida produtiva, inspirou estudantes, e estava sempre aberto ao novo. Falava aos jovens e aos grandes do Direito. Foi um grande homem, e nos deixa um legado valioso. Tive a sorte de estar com ele em inúmeras ocasiões.
Infelizmente, 2018 começou com uma grande perda.